01 julho, 2012

ANDALUZIA – A Granada que Giovana Teles conheceu….

 Chegar a Granada no fim da tarde é um grande presente. O melhor é ir direto para a Carrera del Darro e observar a Alhambra: grandiosa, encantadora que vai se “transformando” com o cair do sol e ganha outros ares e cores à noite. É deslumbrante acompanhar esse rito de passagem das calçadas dos vários bares dessa área da cidade, que dá acesso ao Sacromonte e ao Albaicín. Há passeios guiados à noite por esses dois “bairros” que se complementam. Uma parada obrigatória é o Mirador de San Nicolás, de onde se vê a Sierra Nevada, e todo o Generalifee a Alhambra. O encantamento continua subindo o Albaicin, em alguma das cuevas com espetáculos de flamenco. Sim, são shows montados para os turistas, em várias salas, vários horários. Mas mesmo assim vale a pena, pelo lugar, pela atmosfera mágica da noite de Granada. Fui à zambra gitana da cueva Los Tarantos.
Dia seguinte separado para a visita à Alhambra, uma joia da arquitetura árabe, erguida pelos sultões Nazaritas já no último período da dominação muçulmana. A cada palácio, fonte, jardim – cada um com suas histórias e mistérios - aumenta a certeza de que se vai voltar à cidade um dia. Para aliviar o cansaço e renovar as energias, um banho árabe, em seguida. A rede Hammans de Al Andalus, tem um banho árabe junto da Carrera del Darro. São piscinas quente, morna e fria e você pode optar por massagens também. Perfeito!

Depois, na Plaza Nueva, montaditos de jamón Pata Negra com um vinho de Rioja. Vem a noite outra vez e mais flamenco. Mas dessa vez, em casas que os próprios granadinos frequentam: como o Le Chien Andalou. É preciso comprar os ingressos cedo porque o lugar é pequeno e enche muito rápido. Pelo Chien passam muitos artistas da cidade e os que estão a passeio ou dando cursos. Encontramos nesse bar flamenco, por acaso, ninguém menos que o bailaor Joaquin Grilo.


De dia, outra visita inesquecível é ao Museu da mulher Cigana e às cuevas que reproduzem como os ciganos moravam nessas casas escavadas na rocha. Essas casas, morada dos mais pobres, ficam aquecidas no frio e amenizam o calor no verão. O museu mostra também as principais atividades dos ciganos – a fabricação de cestarias, de utensílios de cobre e de ferro. Pertinho disso, também no Sacromonte, outro museu: a casa cueva de Curro del Albaicin, um cantaor, poeta, muito ligado à arte flamenca em Granada. O salão está cheio de fotografias de artistas das mais nobre dinastias dessa arte.

Como eu e minha amiga Magda Patrícia de Castro identificamos vários deles, acho que passamos no teste, e Curro ainda improvisou uma zambra exclusiva pra gente – flamenco puro en la sangre!  Também é assim nas apresentações em outra cueva em que professores das escolas de flamenco da cidade costumam se apresentar - a Venta El Gallo, que tem na parede principal a foto do escritor, poeta, músico que, para mim, se confunde com a cidade: Federico García Lorca.

Para ficar mais perto da obra e da história de Lorca é preciso seguir para o outro lado da cidade. No parque Federico Garcia Lorca está a Huerta de San Vicente, a casa de campo onde a família passava o verão e que serviu de abrigo a Lorca antes de ser assassinado pela ditadura de Franco.

Na casa museu, só se entra com guia e em horários determinados. Ali estão textos manuscritos, desenhos, objetos pessoais, o quarto ... e o piano em que Lorca tocou e gravou várias canções populares com La Argentinita. Entrar nesse universo, conhecer a letra, as cores escolhidas pelo próprio Lorca para suas obras é um privilégio sem tamanho. É como se pudéssemos voltar às décadas de 20 e 30 ... a casa simples, rodeada de verde,  onde um dos maiores poetas de todos os tempos buscava inspiração ... entre os manuscritos, cartas aos amigos geniais como ele: Salvador Dali, Luís Buñuel, Manuel de Falla. A vontade é de ficar horas observando e absorvendo cada detalhe. A guia nos dá a chance de voltar a um cômodo antes de sairmos. Voltei para a sala de piano, lembrei da Nana de Sevilla gravada pelos dois. Saí e chorei por saber que, de alguma forma, tinha vivido ali momentos de muitas histórias que pareciam distantes e naquele instante eram tão reais.  Sentimentos iguaizinhos aos da Canción del dia que se va ...
“Que trabajo me cuesta
Dejarte marchar, dia!
Te vas lleno de mi,
Vuelves sin conocerme
Que trabajo me cuesta
Dejar sobre tu pecho
Posibles realidades
De imposibles minutos.”
(Federico Garcia Lorca)

Giovana teles é jornalista, completamente apaixonada pelo flamenco e tem certeza que Andaluzia é a sua casa espiritual

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Andrea L. Pires
Com Salto e Asas

Andrea Pires

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